Imprensa, cultura e imaginário urbano

Christina Ferraz Musse

A cidade, sua textura cultural, a densidade e a narratividade de suas articulações é um dos temas de ponta para quem quer discutir a cultura desse momento enigmático que vivemos. Foi esse o tema que Christina Musse escolheu para seu estudo. Não contente, elegeu ainda uma cidade — Juiz de Fora — cujas peculiaridades são fascinantes e zona de risco para o pesquisador. Uma cidade cujos sentidos de fronteira, de periferia, de margem, de cruzamento, são potencializados de forma única.

Outro ponto de análise importante desse estudo é a desconstrução da idéia de mineiridade, um dos grandes mitos regionais brasileiros, que, no caso de Juiz de Fora, sublinha seu aspecto outsider, enquanto vila, cidade, metrópole. Juiz de Fora, ao contrário do sentido de unidade do ethos mineiro, mostra-se como o território de expressão da dialética dentro/fora, do não-pertencimento.

Além do interesse histórico dessas formações narrativas, a opção por uma metodologia que privilegia a historicização, cumpre aqui um papel modelar. Esta é precisamente a base conceitual e teórica dos Estudos Culturais — campo do conhecimento em que a autora se move —: perceber que a construção de metáforas e formações discursivas não são pura criação espontânea. Ao contrário, são demandas concretas de períodos históricos específicos. Esta estratégia, num momento de parcos recursos e modelos teóricos que dêem conta da quebra radical de paradigmas e das questões transdisciplinares que se colocam com velocidade surpreendente, vem mostrando uma eficácia analítica significativa.

A mídia escolhida pela autora para tecer sua reconstrução dessa história não é certamente inocente. Esta mídia é a imprensa, uma mídia complexa, também de alta voltagem simbólica e que, a seu modo, reflete demandas e desejos bastante profundos da esfera pública, constituindo-se mesmo como um expressivo mediador cultural e adquirindo valor emblemático em determinados períodos históricos. Portanto, além de outras fontes consultadas, depoimentos gravados, material artístico e literário consultados, a imprensa ganha um espaço significativo nesse estudo.

Atenção especial foi dada ao período de transformação contracultural dos anos 60/70, momento bastante produtivo e de virada no panorama cultural da cidade mas ainda praticamente não estudado.

............................

Sobre a autora: Christina Ferraz Musse possui mestrado (2001), doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006) e pós-doutorado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2017) É professora titular do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF e Professora visitante da Universidade de Paris VIII, Saint-Denis. É autora dos livros: "Memórias possíveis: personagens da televisão em Juiz de Fora" (com a colaboração de Cristiano José Rodrigues) (2011) e "Os cinemas de rua de Juiz de Fora: memórias do Cine São Luiz" ( com a colaboração de Gilberto Faúla Avelar Neto e Rosali Maria Nunes Henriques).

...........................

SUMÁRIO:

Abreviaturas e siglas - 9
Prefácio, por HELOISA BUARQUE DE HOLLANDA - 11
Agradecimentos - 15
Introdução - 21

CAPÍTULO 1
ESPAÇO PÚBLICO, IDENTIDADE E COMUNICAÇÃO, 33
1.1. Os jornais, a construção do lugar e os fluxos da comunicação - 33
1.2. A "juizforaneidade": ou como ser mineiro na fronteira - 36
1.3. A cidade e a desterritorialização - 42
1.4. A imprensa e as cartografias urbanas - 46
1.5. Os meios eletrônicos e a nova geopolítica - 52

CAPÍTULO 2
A QUESTÃO DA IDENTIDADE NA FORMAÇÃO HISTÓRICA DE JUIZ DE FORA, 61
2.1. Juiz de Fora: cidade de fronteira geográfica e simbólica - 61
2.2. A ordenação do núcleo urbano - 71
2.3. Imigração e industrialização: a cidade cosmopolita - 75
2.4. A "Europa dos pobres" - 83
2.4.1. A educação e seu papel civilizatório - 88
2.4.2. A cultura e os intelectuais - 92
2.5. A imprensa e a memória do lugar - 97
2.5.1. Os jornais e a cidade moderna - 102
2.5.2. A cidade periférica - 108
2.5.3. Em compasso de espera - 112
2.5.4. A cultura como trincheira identitária - 117
2.5.5. O imaginário diaspórico - 130

CAPÍTULO 3
OS ANOS 60/70: CULTURA COMO ESPAÇO DE RESISTÊNCIA, 137
3.1. O golpe, as novas elites e a desagregação do urbano - 137
3.2. A cultura e os lugares da afetividade - 143
3.3. A trajetória dos festivais - 155

CAPÍTULO 4
O JORNALISMO E AS NARRATIVAS SOBRE A CIDADE, 171
4.1. O Diário Mercantil: "alter-ego" de Juiz de Fora - 171
4.2. O suplemento Arte e Literatura: cidade das letras - 194
4.2.1. Os "meninos" do Guima - 195
4.2.2. O território livre da arte e da literatura - 205
4.3. Paraiburgo e os Palimpsestos Marginais - 211
4.3.1. "Marginais" * "Oficiais" - 215
4.3.2. Palimpsestos: a tentativa de reescrever a cidade - 238
4.3.3. Pós-Palimpsestos e o suplemento lúnior - 262

CONCLUSÕES, 271

ANEXOS, 279
Anexo A - 279
Anexo B - 285
Anexo C - 287
Anexo D - 292
Anexo E - 295
Anexo F - 300
Anexo G - 310
Anexo H - 315
Anexo I (Fotografias das edições do Diário Mercantil) - 315

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 327
Livros, artigos em livros, teses, dissertações, monografias, catálogos, folhetos - 327
Artigos em revistas e jornais, encartes especiais - 335
Material gravado em áudio - 340
Material em suporte áudio/vídeo - 342
Material em suporte eletrônico - 342

***